quarta-feira, 29 de maio de 2013

Norte da Argentina é Diversidade e Aventura



Pouco visitadas, as províncias de Salta e Jujuy, no norte da Argentina, são uma grande opção de viagem para os que gostam de natureza conjugada com  históriaSituadas na fronteira da Bolívia, Chile e Paraguai têm variedades de paisagem que vão da aridez do deserto de Puna, até o verde exuberante da selva.

Mas não é só, a região tem rico passado histórico cultural ligado à antiga nação Diaguita-Calchaqui, ao Império Inca e ao passado colonial hispânico. Esse passado está marcado não só nos legados arquitetônicos de Salta, conhecida como "La Linda”, mas também na fisionomia humana de seus povos.

A viagem deste post foi realizada no Carnaval de 2010 e durou 9 dias, mas considero que muitas das dicas são atuais. Viajei na companhia de meu marido, filha com 2 anos à época, sua babá, e um casal de amigos,  Raquel e José Carlos,  acompanhados da filha de 18 anos. José Carlos é um excelente fotógrafo e gentilmente me cedeu as incríveis fotos desta postagem.



A região pode ser visitada em qualquer época do ano, com temperaturas que variam de 3°C a 17°C no inverno e 18°C a 28°C no verão, devido à altitude. Chove pouco e raramente são chuvas fortes. A Auroraeco, agência que planejou a nossa viagem, sugere que os meses de janeiro e fevereiro sejam evitados. Entretanto, não tivemos problema.



Como disse, o roteiro foi todo planejado pela Auroraeco, que utilizou a agência local Socompa. Essa agência tem programas prontos e pode customizar sua viagem pela região. Acho que vale a pena checar todas as possibilidades e também é possível agendar por conta. Nesse caso será mais trabalhoso e, a não ser que seja um aventureiro incorrigível como fui um dia, acho que dificilmente escapará de um carro com motorista.















Todo o itinerário foi realizado em duas camionetes de cabine dupla 4x4 (uma para cada família), essencial para se locomover na região, uma vez que a maioria das estradas não é pavimentada.  



Prepare-se! As viagens são longas, as estradas não ajudam, mas as paisagens são fantásticas e compensam.

A LAN e Aerolineas Argentinas, têm voos para Salta a partir de Buenos. Os da LAN partem às 8:45, 12:05 e 17:10 e retornam  às 11:45, 15:05 e 20:10.  Os da Aerolineas partem de Buenos Aires às 07:15, 10:25, 13:05, 14:45, 17:15 e 20:55 e retornam às 06:05, 10:10, 13:20, 16:00, 17:40 e 20:10.

Se voar a partir de São Paulo,  a melhor opção é dormir em Buenos Aires para pegar o primeiro voo, se não, vai passar o dia da ida só viajando. Dá para voltar direto, mesmo saindo nos voos de Salta que decolam às 15:05 e às 16:00, o que vai lhe dar chance para aproveitar a manhã da volta. Adquira o trecho a partir de seu destino no Brasil que fica mais barato. Dá também para utilizar milhar da TAM. Lembre-se de que mesmo que escolha dormir em Buenos Aires, se ficar menos de um dia, será considerada conexão imediata. 



Nós saímos do Brasil na sexta-feira a noite, de Gol, e seguimos para Salta na manhã do sábado de Aerolineas. Retornamos no domingo às 13:30, com conexão imediata em Buenos Aires.



Primeiro dia: Chegamos em Salta  no meio da tarde e seguimos para o Hotel House of Jasmines, que se localiza nos arredores da cidade e pertence a rede Relais&Chateau. Trata-se de uma estância elegante, senhorial, com mais de um século de antiguidade. Pertenceu ao ator Robert Duvall, casado com uma saltenha, e hoje é de propriedade   de uma família francesa, Fenentraz, com larga tradição hoteleira. A família mora em uma casa no local e é muito simpática. Depois de alojados seguimos para um city tour na cidade e lá jantamos. 




Se preferir ficar em um local mais central, acho que vale checar dois hotéis: Legado Mítico  e Design Suites Salta

A cidade tem como ponto central a Plaza 9 de Julio, rodeada de prédios históricos. Na mesma praça está localizado o Museo de Arqueologia de Alta Montaña, cuja visita é imperdível. Tem como principal atração Los Ninos de Llullaillaco, que são corpos muito bem preservados, de mais de 500 anos, de três crianças incas encontradas próximas ao vulcão do mesmo nome, e seus objetos. 

Visitamos ainda o Cerro São Bernardo que também pode ser acessado por teleférico e em cujo pé está o monumento ao General M. M.de Güemes, herói do regimento chamado de Los Infernales. Ele lutou na libertação do país e se tornou governador da província. 


À noite jantamos um parrilla no centro da cidade, mas, ao menos à época, o restaurante do hotel House of Jasmines era uma melhor opção.


No segundo dia de manhã, partimos com destino à  Estância e Bodega Colomé, que abriga um maravilhoso hotel e museu, sobre os quais falarei mais adiante.

Seguimos o caminho em direção aos Valles do Calchaquies, onde se pode descobrir uma terra de povoadores autênticos e culturas milenares. No percurso até a Cachi, primeira das nossas paradas, se pode observar as paisagens agrestes da "Cuesta Del Obispo" e da "Quebrada de Escoipe". 


Fizemos uma caminhada pelo Parque Nacional de Los Cordones, coberto de imensos cactos  e, depois, visitamos a pequeno povoado de Cachi, com seus velhos casarões da época colonial, onde almoçamos em um simpático restaurante.


De lá, seguimos mais de 50 km para Molinos, outro povoado da época colonial, onde em seus arredores se localiza a Estância e Bodega Colomé (=/- 25 km). 


A Estância e Bodega Colomé é a mais antiga vinícola  ainda em atividade na Argentina e possui um dos vinhedos mais altos do mundo (3002 m). Quando fomos a sede tinha serviço de hotel, mas hoje só recebe grupos fechados. 




A estância foi fundada no ano 1831, provavelmente a cargo do governador espanhol de Salta, Nicolás Severo de Isasmendi e Echalar.  No ano 1854, sua filha e marido introduziram em Colomé as videiras francesas Malbec pré filoxera e Cabernet Sauvignon. Três vinhedos de 4 ha cada um, que datam daqueles tempos, ainda produzem uvas que formam parte de vinho Colomé Reserva.

A propriedade foi adquirida por Donald e Úrsula Hess, em 2001. Segundo consta no site da vinícola, foram então plantados vinhedos até chegar à 140 ha atuais distribuídos em quatro estâncias. Foram esses proprietários que edificaram novas instalações para a vinícola, com  tecnologia e equipamento de última geração, e construíram o hotel e o exclusivo Museu James Turrell.

Tudo no local é muito bem cuidado e a vista é deslumbrante. Embora o local não mais ofereça serviço de hospedagem, vale ser visitado.

Além da visita à vinícola e ao museu, é  possível almoçar no restaurante e, ainda, 
usar as dependências do que era o hotel, relaxando na beira da piscina apreciando a maravilhosa vista ou cavalgando pela propriedade.



Como estávamos hospedados lá, o terceiro dia foi dedicado a alguma atividade física e a aproveitar as boas coisas que o local oferece. Depois do café da manhã, fomos de bicicleta até Molinos. Embora distante 23 km do hotel, tem boas descidas que ajudam. 

Visitamos o povoado colonial e voltamos de carro para o hotel próximo ao horário do almoço. A refeições são servidas numa varanda com vista dos Andes.

Depois do almoço, usufruímos da piscina com belíssima vista dos vinhedos. Por volta das 16:00, fomos visitar a vinícola e o Museu James Turrell, dedicado a instalações de luz do artista. Como o museu só pode ser visitado por um certo número de pessoas e por isso, se não estiver hospedado, é recomendável fazer reserva (reservas@bodegacolome.com).




Os vinhos são ótimos e as instalações do museu impressionam. Ficamos encantados com todas as obras e mais ainda de toda aquela beleza estar em um lugar tão distante, para poucos. 


O guia nos disse que os proprietários escolheram aquele local por acharem que as obras seriam melhor apreciadas justamente porque contrastam tanto com a paisagem como com o isolamento.


Ainda antes do jantar voltamos ao museu para visitar o Skyspace, espaço aberto dentro das instalações do museu no qual se deita no chão ao entardecer para se desfrutar do jogo de um luzes naturais e artificiais pelo qual o céu de Colomé se impõe com toda sua majestade enchendo a alma e o espírito do visitante de energia e de sentido místico.

Mais um espetáculo a parte, para os poucos que se aventuram por paradas tão distantes. O site do museu informa que durante o período de chuvas (dezembro a março) o espaço pode estar fora de serviço. Não tivemos problema e sinceramente chove tão pouco que não acho que deva ser uma preocupação.


Jantamos no hotel, novamente no terraço, apreciando a bela construção colonial, onde fica o restaurante.

Se você não estiver num grupo que consiga reservar toda a propriedade, o melhor local para se hospedar é a Hacienda de Molinos, que fica na praça principal do povoado de Molinos.
Mapa obtido em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ruta
_Nacional_40_(Argentina).svg
Acesso em: 27.05.13
No quarto dia, partimos de manhã rumo a Cafayate, pela famosa Ruta 40, emblemática estrada que corta a Argentina de norte a sul. 

Almoçamos na casa de um morador em Angastasco, um vilarejo perdido no tempo. O programa é legal, mas não gostamos nada da casa do morador local e foi o único senão de toda viagem. 
Na sequência, passamos por um vale desértico e vilarejos com casa de adobe até alcançarmos a  Quebrada de las Flechas, onde paramos para uma breve caminhada e fotos.  

Chegamos no final da tarde em Cafayate, para nos hospedarmos no bonito Hotel Patios de Cafayate, onde jantamos uma deliciosa comida local. O hotel fica dentro de uma vinícola, também nos arredores da cidade. Tem uma excepcional vista sobre os vinhedos em Los Valles Calchaquíes, num entorno natural muito bonito. É decorado com móveis antigos e cerâmicas e cestas com ervas decoram os 26 quartos. Embora não seja central dá para se alcançar a cidade a pé.
    
                                                                             
A manhã do quinto dia foi reservada para um  trekking ao longo do Rio Colorado, passando por cachoeiras de diferentes tamanhos. No retorno almoçamos um delicioso assado argentino numa pequena chácara ao pé do local do trekking. Infelizmente não me recordo do nome do local, mas tudo estava delicioso. Indague ao agente de viagem ou ao hotel que saberão informar o nome.

No início da tarde,  relaxamos na beira da piscina do hotel e mais ao final do dia visitamos a bodega produtora do prestigiado tinto Yacochuya, que é bem bonita e tem uma pequena pousada. De lá seguimos para ver o pôr-do-sol, degustando um Torrontés nas dunas próximas ao vilarejo.

No sexto dia, voltamos para Salta por outro caminho (a ida e volta a  Cafayate foi como um círculo). Após o café da manhã, já  retornando, fizemos uma caminhada pela Quebrada de las Conchas, um incrível cânion de 55 km de formações rochosas erodidas pelo vento, eleita Patrimônio Natural pela Unesco. 

Almoçamos  em um local no caminho e  chegamos ao Hotel House of Jasmines, por volta das 16:00. Ou seja, ainda tivemos tempo para aproveitar o SPA  e piscina. Jantamos no hotel, ao som de músicos locais, e achei muito bons tanto a comida como o serviço.




Mapa obtido em: 
Acesso em: 28.05.13
No sétimo dia,  seguimos rumo ao norte para a província de Jujuy. O nosso destino foi  Purmamarca (180 km). O dia foi dedicado a Quebrada de Humahuaca, onde fizemos uma pequena caminhada no final da manhã pelo Cerro de lós Siete Colores e  a tarde, uma mais longa, pela Puna, um platô gigante situado no meio dos Andes, a 3650 metros de altura. 



Nos perdemos por lá no final do dia numa emocionante caminhada pelo salar Salinas Grandes, na divisa com o Chile e Bolívia. 



Em Purmamarca, ficamos hospedados no Hotel Manantial del Silencio, mas achei o local decadente. Se não foi reformado, melhor solicitar umas das pequenas pousadas locais, como a Marques de Tojo, bem mais charmosa. Você também pode optar por se hospedar em Tilcara, onde, em pesquisa para essa postagem, encontrei duas propriedades que me pareceram bem charmosas, Viento Norte e Las Marias. Tenha em mente que você está em paradas distantes e as acomodações não podem ser comparadas com aquelas da Argentina mais turística e nem mesmo com a vizinha província de Salta.

No oitavo dia, pela manhã, realizamos uma tranquila caminhada pelo povoado de Purmamarca e a tarde, visitamos o Cerro Las Señoritas, uma incrível montanha avermelhada, sagrada para os locais. Também visitamos a pequena cidade de Tilcara, uma das poucas  do  mundo com um cemitério em montanha e no   fim do dia, retornamos para o hotel.



No nono dia, retornamos de  Purmamarca  para  Salta, após o café da manhã, para pegarmos o voo das 13:25 para Buenos Aires, onde fizemos conexão, às 21:00 para São Paulo, finalizando uma memorável viagem por uma Argentina para mim surpreendente!


É uma viagem que combina diferentes interesses e pode ser realizada de diversas formas. 


Para os amantes de vinhos há uvas autóctones e malbecs surpreendentes. 


Se quiser radicalizar, há diversas opções de trekkings, muito mais desafiadores do que fizemos, além de cavalgadas, raftings etc... 


Se quiser só relaxar, os hotéis são convidativos. 


Ou seja, é uma ótima opção, próxima ao Brasil, para sair da mesmice.